09 junho 2013

Foz do Iguaçu completa 99 anos: um pouquinho da história

Moderna frota do turismo de Foz:  lotação e tintureiras

Porque Foz completa 99 anos, amanhã! Texto de Jackson Lima, publicado na Revista 100 Fronteiras de 2008. 

Parte I - Chamada


Foz do Iguaçu tinha 23 anos quando o Governo Federal inaugurou o Aeroporto do Parque Nacional do Iguaçu. Foz do Iguaçu vivia então, como agora, uma euforia. O futuro parecia promissor. A cidade finalmente apontava para o futuro e estava no rumo certo. Com um aeroporto onde, naquela época, já pousava avião da Panamerican, em escala rumo à Assunção, tudo havia sido projetado para dar certo.

O governo do Estado já havia investido em um Hotel Cassino. Havia hotel, havia aeroporto e havia passageiros. Quando a Pan Air deixou de voar para Assunção via Foz do Iguaçu, entrou a Panair, seu braço
misto brasileiro- americano.  

E havia um grupo nascente de empreendedores. Os passageiros que chegavam ao Aeroporto do Parque Nacional do Iguaçu, encontravam uma frota de modernas tintureiras – as precursoras das atuais vans. Os passageiros já visitavam as Cataratas do Iguaçu que há um ano ficavam dentro do Parque Nacional do Iguaçu recentemente federalizado. Não havia muita diferença ainda.

Parte II

O Governo do estado do Paraná criou em Foz do Iguaçu, uma escola de profissões. Governo e Senac Investiram mais de R$ 3 milhões no novo Centro de Educação Profissional Senac Cataratas. Espera-se que 10 mil alunos passem pelo Centro anualmente em busca de uma profissão. A Escola fica no prédio onde um dia funcionou o Hotel Cassino de Foz do Iguaçu, obra projetada pelo engenheiro Raul Mesquita, da Companhia Construtora Nacional em 1936 e executada entre 1938 e 1939. 

Hoje o Centro de Educação Profissional Senac Cataratas fica na Praça Almirante Tamandaré, conhecida popularmente como Praça da Marinha. Quando foi construído, o Hotel Cassino parecia estar no centro do nada. Porém era o lugar mais chique de Foz do Iguaçu. Artistas, políticos, líderes e presidentes se hospedaram no hotel construído pelo Governo do Estado. Só no final da década de 50, os visitantes ilustres passaram a ser recebidos no Hotel das Cataratas.  Com o moderno Hotel Cassino, Foz do Iguaçu foi incluída na rota dos Hotéis Cassinos do Brasil que haviam sido liberados para funcionar em 1934. A ordem para liberação dos cassinos veio do presidente Getúlio Vargas.     

No outro lado da cidade, bem longe do Hotel Cassino, já na área rural, outra obra estava em andamento. Era o Aeroporto do Parque Nacional do Iguassu construído nas terras de Fulgêncio Pereira. Era um aeroporto moderno que ostentava um prédio no estilo colonial e era tido como muito confortável. O aeroporto e o hotel estavam casados. Os passageiros seriam recebidos no salão do Aeroporto e levados para o Hotel Cassino. Nada poderia dar errado. Desde 1935, Foz do Iguaçu já recebia aviões em seu Campo de Pouso. Em 1938 a empresa Pan American, dos Estados Unidos começo um voo Rio – Assunção – Buenos Aires com uma escala no Campo de Aviação ainda sem nome e sem edifício de Foz do Iguaçu.

No ano seguinte, 1939, segundo o relato de Olívia Schimmelpfeng eternizado em obra da Editora Tezza, a brasileira Pan Air assumiu os voos, desta vez, partindo de São Paulo para Assunção via Curitiba e Foz do Iguaçu. O novo Aeroporto projetado pelo engenheiro Ângelo Murgel foi inaugurado em 1942. O prédio desse aeroporto ainda pode ser visto. É a sede do GRESFI – Grêmio Recreativo e Esportivo de Foz do Iguaçu. O prédio continua charmoso e bonito embora necessite cuidados como um testemunho vivo do passado de Foz do Iguaçu.

As obras estavam pipocando por toda parte. Na época da construção do hotel, o prefeito de Foz do Iguaçu era o Capitão Melquíades do Valle. O governador do Paraná era Manoel Ribas que ficou no poder entre 1932 e 1945. O presidente do Brasil era Getúlio Vargas. Manoel Ribas passou 14 anos à frente do governo do Paraná ora como governador, ora como interventor. Ele era o homem forte de Getúlio Vargas no Estado. Tudo estava indo bem neste cantinho, até então, tão esquecido do Brasil.

Embora dados específicos sobre esta época sejam raros especialmente no nível local, se pode ver um período onde tudo estava acontecendo. Após a inauguração do hotel, o casal Acylino e Rosa Cirilo de Castro ficou responsável pelo gerenciamento do estabelecimento. Dona Rosa Cirilo aparece em uma foto que celebra a chegada da  primeira “tintureira” (van) para transporte de passageiros. Se lia na tintureira: Hotel Cassino.

Frustrações múltiplas - Em 1941, um ano antes da inauguração do Aeroporto do Parque Nacional do Iguassu, o Decreto Lei 5812 surpreendeu os moradores da pequena Foz do Iguaçu. Estava criado o Território Federal do Iguaçu (TFI). Ou seja, Foz do Iguaçu não era mais Paraná. O Decreto dizia que a capital do Território Federal do Iguaçu seria “a cidade do mesmo nome”. Os moradores de Foz do Iguaçu saíram às ruas poeirentas para comemorar. Foz do Iguaçu seria a capital do Território Federal do Iguaçu. Foz seria finalmente a capital de alguma coisa. Acabou a humilhação de depender de Curitiba.      

A Cidade das Cataratas ficou fora do Paraná até 1945. Os opositores e críticos do governador Manoel Ribas, os “paranistas”, o acusam de ter permitido mutilar o Paraná. E mutilar para quê? A resposta de alguns: para acomodar o excedente da mão de obra sulista. Outros completam: o Território Federal do Iguaçu foi criado para ser colonizado preferencialmente por gaúchos. 

A alegria dos iguaçuenses durou pouco. Foz do Iguaçu nunca assumiu o status de Capital do Território. Em 1944, a história registrou uma outra manobra interessante. O artigo 5° do Decreto 6.550 que tratava da administração do Território, declarou a cidade de Laranjeiras como a capital do Território do Iguaçu. Desta vez, a revolta foi total. Foz do Iguaçu perdeu. A manobra foi tão grosseira que alguns dados básicos não foram levados em consideração pelos interventores do Paraná e pelo Governo Federal. Um deles: Laranjeiras não estava dentro do Território. Outro dado: Laranjeiras não era parte do Oeste do Paraná. Qual foi a solução apresentada? Incluir Laranjeiras no Oeste e mudar de nome. Ela foi chamada de ex-Laranjeiras e de Vila de Xagu (Hoje Nova Laranjeira )

Lá fora, no mundo, a Segunda Guerra Mundial entrava na reta final. Aqui dentro, a Guerra trouxe consequências especialmente para quem tinha sobrenome alemão ou italiano. Até os padres e missionários alemães tiveram que sair de Foz do Iguaçu e aguardar em Guarapuava. Ninguém confiava em ninguém.   

Finalmente, em 1945, a Segunda Guerra Mundial acaba. A era do que se chama “a ditadura de Getúlio Vargas” também. O deputado constituinte Bento Munhoz da Rocha, futuro governador do Paraná, entra com uma emenda que exigiu a extinção do Território do Iguaçu. Ele conseguiu. Essa façanha foi vista como a reintegração do Paraná. Munhoz da Rocha passou a ser o herói dos paranaenses “paranistas”. Começou também a época de desfazer tudo o que tivesse a ver com a ditadura de Vargas. O jogo de azar, por exemplo, foi o primeiro da lista.   

No dia 30 de abril de 1946, o Decreto-Lei 9.215 do presidente e marechal Eurico Gaspar Dutra, mandou fechar todos os cassinos no Brasil. Foi o fim do Hotel Cassino de Foz do Iguaçu e de outros 70 no Brasil. O hotel teve que se dedicar à atividade hoteleira e às excursões, unicamente. Houve um clamor nacional.  Foz participou desse clamor. Afirma-se que 53.200 pessoas ficaram desempregadas devido ao fechamento dos 71 cassinos brasileiros. Não há dados sobre o efeito do fechamento em Foz. O interessante é que mesmo durante o apogeu dos cassinos no Brasil, o jogo de azar já era proibido pelo Código Penal brasileiro. Até hoje, legalizar o jogo tem sido o alvo de mais de 90 projetos de lei. Todos fracassaram. O código penal não permite.       


 
Hotel Cassino: testemunha da história de Foz do Iguaçu
Prédio foi construído em época de grandes esperanças, expectativas e frustrações. Este material é uma pincelada no período da intervenção federal no Paraná 1931 - 1945  

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