Moderna frota do turismo de Foz: lotação e tintureiras |
Porque Foz completa 99 anos, amanhã! Texto de Jackson Lima, publicado na Revista 100 Fronteiras de 2008.
Parte I - Chamada
Foz do
Iguaçu tinha 23 anos quando o Governo Federal inaugurou o Aeroporto do Parque
Nacional do Iguaçu. Foz do Iguaçu vivia então, como agora, uma euforia. O
futuro parecia promissor. A cidade finalmente apontava para o futuro e estava
no rumo certo. Com um aeroporto onde, naquela época, já pousava avião da
Panamerican, em escala rumo à Assunção, tudo havia sido projetado para dar
certo.
O governo
do Estado já havia investido em um Hotel Cassino. Havia hotel, havia aeroporto e
havia passageiros. Quando a Pan Air deixou de voar para Assunção via Foz do
Iguaçu, entrou a Panair, seu braço
misto
brasileiro- americano.
E havia um
grupo nascente de empreendedores. Os passageiros que chegavam ao Aeroporto do
Parque Nacional do Iguaçu, encontravam uma frota de modernas tintureiras – as
precursoras das atuais vans. Os passageiros já visitavam as Cataratas do Iguaçu
que há um ano ficavam dentro do Parque Nacional do Iguaçu recentemente
federalizado. Não havia muita diferença ainda.
Parte II
O Governo
do estado do Paraná criou em Foz do Iguaçu, uma escola de profissões.
Governo e Senac Investiram mais de R$ 3 milhões no novo Centro de Educação
Profissional Senac Cataratas. Espera-se que 10 mil alunos passem pelo Centro
anualmente em busca de uma profissão. A Escola fica no prédio onde um dia
funcionou o Hotel Cassino de Foz do Iguaçu, obra projetada pelo engenheiro Raul
Mesquita, da Companhia Construtora Nacional em 1936 e executada entre 1938 e
1939.
Hoje o
Centro de Educação Profissional Senac Cataratas fica na Praça Almirante
Tamandaré, conhecida popularmente como Praça da Marinha. Quando foi construído,
o Hotel Cassino parecia estar no centro do nada. Porém era o lugar mais chique
de Foz do Iguaçu. Artistas, políticos, líderes e presidentes se hospedaram no hotel
construído pelo Governo do Estado. Só no final da década de 50, os visitantes
ilustres passaram a ser recebidos no Hotel das Cataratas. Com o moderno Hotel Cassino, Foz do Iguaçu
foi incluída na rota dos Hotéis Cassinos do Brasil que haviam sido liberados
para funcionar em 1934. A
ordem para liberação dos cassinos veio do presidente Getúlio Vargas.
No
outro
lado da cidade, bem longe do Hotel Cassino, já na área rural, outra obra
estava
em andamento. Era
o Aeroporto do Parque Nacional do Iguassu construído nas terras de
Fulgêncio
Pereira. Era um aeroporto moderno que ostentava um prédio no estilo
colonial e
era tido como muito confortável. O aeroporto e o hotel estavam casados.
Os
passageiros seriam recebidos no salão do Aeroporto e levados para o
Hotel
Cassino. Nada poderia dar errado. Desde 1935, Foz do Iguaçu já recebia
aviões em seu Campo de Pouso. Em 1938 a empresa Pan American,
dos Estados Unidos começo um voo Rio – Assunção – Buenos Aires com uma
escala
no Campo de Aviação ainda sem nome e sem edifício de Foz do Iguaçu.
No ano
seguinte, 1939, segundo o relato de Olívia Schimmelpfeng eternizado em obra da
Editora Tezza, a brasileira Pan Air assumiu os voos, desta vez, partindo de São
Paulo para Assunção via Curitiba e Foz do Iguaçu. O novo Aeroporto projetado
pelo engenheiro Ângelo Murgel foi inaugurado em 1942. O prédio desse aeroporto
ainda pode ser visto. É a sede do GRESFI – Grêmio Recreativo e Esportivo de Foz
do Iguaçu. O prédio continua charmoso e bonito embora necessite cuidados como
um testemunho vivo do passado de Foz do Iguaçu.
As obras
estavam pipocando por toda parte. Na época da construção do hotel, o prefeito
de Foz do Iguaçu era o Capitão Melquíades do Valle. O governador do Paraná era
Manoel Ribas que ficou no poder entre 1932 e 1945. O presidente do Brasil era
Getúlio Vargas. Manoel Ribas passou 14 anos à frente do governo do Paraná ora
como governador, ora como interventor. Ele era o homem forte de Getúlio Vargas
no Estado. Tudo estava indo bem neste cantinho, até então, tão esquecido do
Brasil.
Embora
dados específicos sobre esta época sejam raros especialmente no nível local, se
pode ver um período onde tudo estava acontecendo. Após a inauguração do hotel,
o casal Acylino e Rosa Cirilo de Castro ficou responsável pelo gerenciamento do
estabelecimento. Dona Rosa Cirilo aparece em uma foto que celebra a chegada
da primeira “tintureira” (van) para
transporte de passageiros. Se lia na tintureira: Hotel Cassino.
Frustrações
múltiplas - Em 1941, um
ano antes da inauguração do Aeroporto do Parque Nacional do Iguassu, o Decreto
Lei 5812 surpreendeu os moradores da pequena Foz do Iguaçu. Estava criado o
Território Federal do Iguaçu (TFI). Ou seja, Foz do Iguaçu não era mais Paraná.
O Decreto dizia que a capital do Território Federal do Iguaçu seria “a cidade
do mesmo nome”. Os moradores de Foz do Iguaçu saíram às ruas poeirentas para
comemorar. Foz do Iguaçu seria a capital do Território Federal do Iguaçu. Foz
seria finalmente a capital de alguma coisa. Acabou a humilhação de depender de
Curitiba.
A Cidade
das Cataratas ficou fora do Paraná até 1945. Os opositores e críticos do
governador Manoel Ribas, os “paranistas”, o acusam de ter permitido mutilar o
Paraná. E mutilar para quê? A resposta de alguns: para acomodar o excedente da
mão de obra sulista. Outros completam: o Território Federal do Iguaçu foi
criado para ser colonizado preferencialmente por gaúchos.
A alegria
dos iguaçuenses durou pouco. Foz do Iguaçu nunca assumiu o status de Capital do
Território. Em 1944, a
história registrou uma outra manobra interessante. O artigo 5° do Decreto 6.550
que tratava da administração do Território, declarou a cidade de Laranjeiras
como a capital do Território do Iguaçu. Desta vez, a revolta foi total. Foz do
Iguaçu perdeu. A manobra foi tão grosseira que alguns dados básicos não foram
levados em consideração pelos interventores do Paraná e pelo Governo Federal.
Um deles: Laranjeiras não estava dentro do Território. Outro dado: Laranjeiras
não era parte do Oeste do Paraná. Qual foi a solução apresentada? Incluir
Laranjeiras no Oeste e mudar de nome. Ela foi chamada de ex-Laranjeiras e de
Vila de Xagu (Hoje Nova Laranjeira ).
Lá fora, no mundo, a Segunda Guerra Mundial entrava na reta final. Aqui dentro, a Guerra trouxe consequências especialmente para quem tinha sobrenome alemão ou italiano. Até os padres e missionários alemães tiveram que sair de Foz do Iguaçu e aguardar em Guarapuava. Ninguém confiava em ninguém.
Lá fora, no mundo, a Segunda Guerra Mundial entrava na reta final. Aqui dentro, a Guerra trouxe consequências especialmente para quem tinha sobrenome alemão ou italiano. Até os padres e missionários alemães tiveram que sair de Foz do Iguaçu e aguardar em Guarapuava. Ninguém confiava em ninguém.
Finalmente,
em 1945, a
Segunda Guerra Mundial acaba. A era do que se chama “a ditadura de Getúlio
Vargas” também. O deputado constituinte Bento Munhoz da Rocha, futuro
governador do Paraná, entra com uma emenda que exigiu a extinção do Território
do Iguaçu. Ele conseguiu. Essa façanha foi vista como a reintegração do Paraná.
Munhoz da Rocha passou a ser o herói dos paranaenses “paranistas”. Começou
também a época de desfazer tudo o que tivesse a ver com a ditadura de Vargas. O
jogo de azar, por exemplo, foi o primeiro da lista.
No dia 30
de abril de 1946, o Decreto-Lei 9.215 do presidente e marechal Eurico Gaspar
Dutra, mandou fechar todos os cassinos no Brasil. Foi o fim do Hotel Cassino de
Foz do Iguaçu e de outros 70 no Brasil. O hotel teve que se dedicar à atividade
hoteleira e às excursões, unicamente. Houve um clamor nacional. Foz participou desse clamor. Afirma-se que
53.200 pessoas ficaram desempregadas devido ao fechamento dos 71 cassinos
brasileiros. Não há dados sobre o efeito do fechamento em Foz. O interessante é que
mesmo durante o apogeu dos cassinos no Brasil, o jogo de azar já era proibido
pelo Código Penal brasileiro. Até hoje, legalizar o jogo tem sido o alvo de
mais de 90 projetos de lei. Todos fracassaram. O código penal não permite.
Prédio foi
construído em época de grandes esperanças, expectativas e frustrações. Este
material é uma pincelada no período da intervenção federal no Paraná 1931 -
1945
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