Estou trabalhando aqui na calada da noite, listando as coisas boas da Triplice Fronteira, dando minha contribuição, sofrendo para isso, sofrendo boicotes e isso me dá o direito de dizer o que vou dizer. Estou de saco cheio com a matança de Foz do Iguaçu. Estou cansado de todo os dias, em toda parte, encontrar iguaçuenses que me dizem: mataram mais um. Estou revoltado e não sou obrigado a agüentar mais o discurso que está sendo infiltrado na cabeça dos iguaçuenses: se morreu alguma coisa fez.
Assim não dá. Estou com vergonha, muita vergonha. Como eu posso continuar listando coisas a fazer na Tríplice Fronteira, quando a minha cidade tem um atrativo que não me orgulha? Uma quantidade imensa de gente com muita facilidade em puxar o gatilho. Morre-se, morre-se e morre-se. E cada pessoa que morre me diminui. Isso já dizia um poeta. Não há nada disso de que quem morreu algo fez. Se eu morrer de tiro amanhã, vão dizer, alguma coisa fez. Assim não dá.
Chegou a hora de ir às ruas. O Governo desde a escala federal até a municipal tem que se explicar. Vemos entrar gestão e sair gestão, e pouco os políticos têm a mostrar. No caso do Governo Federal, creio, é chegada a hora de dar algumas respostas a poucos que perguntam. È conhecimento comum e a OIT divulgou que nossos jovens estão morrendo. É por causa do contrabando, das drogas, do tráfico de armas e do terrorismo. Terrorismo sim. Há terrorismo em Foz do Iguaçu e na Tríplice Fronteira especialmente nos lados do Brasil e Paraguai. A Argentina logo terá. Nao me refiro a terrorismo islâmico. Creio que é até pecado dizer "terrorismo islâmico" assim como não pode haver "Terrorismo cristão".
Mas quanto ao nosso terrorismo, pergunto: qual é o nome da força brasileira que controla os pouquíssimos quilômetros de costa do rio Paraná entre o Jardim Jupira e o Marco das Três Fronteiras? De quem é a atribuição legal para isso? Da Marinha não é. Da Capitania de Portos não é. Da Policia Federal não é. Da Polícia Militar não é. De quem é? Este pedacinho maldito de frontreira está por trás das mortes e dos acertos de contas. Se o Brasil não consegue manter seguro este pedacinho maldito de fronteira como vai assegurar alguma coisa ao longo do Lago de Itaipu? Ao longo dos milhares de quilômetros de fronteira seca com o Paraguai? Ao longo do rio Paraguai? Ao longo do Rio Mamoré? E às autoridades locais pergunto: é possível que cada jovem que morre represente um empreego a menos que vocês deveriam criar? Onde estão os empregos? As indústrias? O trabalho?
É hora dos iguaçuenses começarem a ir às ruas. Porque assim não dá. No momento, eu lanço meu olhar na direção do turismo e me pergunto: por que devo eu continuar a divulgar coisa alguma de uma terra de pistoleiro? Devo parar a minha lista? Devo desaconselhar os turistas a vir aqui? Devo pedir um boicote ao turismo brasileiro até que o governo consiga garantir os direitos de cidadãos e turistas? Não estou pedindo boicote ainda. Mas é o que merece. Não engulo esses crimes!
É só por agora!
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