No Brasil a imprensa serve como bode expiatório do turismo, do governo, dos poíticos. Tudo por conta da divulgação de mazelas: crimes, assaltos, seqüestros, roubos, ataques, violência, balas perdidas e muito mais. Empresários do turismo acusam a imprensa de divulgar só o que é ruim. O que é bom ninguém divulga. Empresários do turismo e hotelaria acusam a imprensa de ser sensacionalista. Estou escrevendo este texto para pedir cuidado quando utilizamos a palavra sensacional e sensacionalista. No final espero ter deixado claro que tanto o turismo como o jornalismo trabalham seguindo a mesma cartilha. A cartilha sensacionalista.
O primeiro passo responsável, aqui, é explorar a palavra ou o conceito do sensacional. Erram os executivos do turismo e o público geral quando pensam que sensacionalismo se aplica somente àqueles casos horríveis que são títulos ou manchetes de jornais. Uma capa de jornal contendo manchetes como “Encontrado homem sem cabeça”, “Mulher bate no marido e atira na sogra”, são exemplos de sensação na manchete.
Mas o primeiro sensacionalismo dos sensacionalistas é acreditar que só notícia “imoral”, “pornográfica”, violenta ou sangrenta são sensacionais. São sensacionais também as notícias boas mas mentirosas. O sensacional tem a ver com a manchete. Dito de modo mais direto, tudo o que o sensacional quer é uma manchete. Noticias como “Governo do Fulano é o melhor da história”, “Paraná é exemplo de eliminação da pobreza”, “Itaipu é exemplo de manejo ambiental” ou “Turismo de Foz está cada vez melhor” são manchetes sensacionalistas. Foram criadas para chamar a atenção e nada mais. Manchete sensacional é “um recorte” da realidade que só ver por um lado. Todas as notícias, independentes do título, quando aprofundadas, permitem que o leitor descubra de onde vem, de que ângulo da realidade o recorte partiu? O que está por trás? Quem lucra? O texto completo mostrará, no caso de pesquisas que para 10% ou 50% da população o Governo de fulano foi considerado o melhor. E assim sucessivamente.
O que é sensacional?
O turismo trabalha no mesmo molde do jornalismo sensacionalista ou do jornalismo de propaganda, ideológico ou partidário. O turismo também é de massa e por isso necessita fazer os recortes mais generalizados possíveis para atender ao maior número de pessoas possível – igual imprensa. Basta ler catálogos de turismo sobre qualquer país ou cidade. Quem escolheu as “atrações” que estão no catálogo? Que critério utilizou? Quem decidiu o que não colocar (excluir)? Quem decide o que é turístico (censor, gatekeeper)? O que é turístico e o que não é?
Quando um folheto turístico promete o paraíso, é verdade? Aquela coisa preparada para que o turista veja não é uma simulação? Não é um simulacro? E por falar em simulação, a comunicação está tomada disso. Veja por exemplo o “sensacionalismo” dentro da Manchete: “Governo lança PAC para tirar o pé do freio”. Bem PAC significa, “Programa de Aceleração do Crescimento”. Com esta manchete, recebo a imagem de que o Brasil tem acelerador, embreagem e freio. Imaginamos um pé de alguém no freio. A gente sente um alívio. O Brasil vai crescer de novo. Ufa! Mas espere, coloquemos a cabeça para pensar e vamos analisar a sigla PAC. É possível “acelerar o crescimento”? Como a gente acelera o crescimento de um frango? Isso é bom?
No primeiro mandato do presidente Lula, o Ministério do Turismo anunciou um Plano Nacional do Turismo. Sensacionalmente, os jornais disseram “Brasil quer 7 milhões de turistas em 2007”. Esta é uma típica manchete sensacional. Brasil quer! Foi ótima a manchete, limpou a barra de muita gente mas e a realidade? Em 2007 nós fomos recebidos pelo “Apagão Aéreo” que jogou para o chão qualquer esperança de 7 milhões de turistas estrangeiros. É interessante notar que apagão aéreo é sensacionalmente impactante. Aeroporto apaga? Mas pelo menos, escancarou a mentira.
Manchetes como “Nunca se voou tanto no Brasil” escondiam a realidade. Mentira é mentira. Aquela manchete do trade turístico “Descubra o Paraíso em Foz” é mentira. (Acabei de ouvir uma nova: “Paraíso Turístico de Itaipu”). A mentira é um caminho fácil, mais curto. É mais fácil mentir do que realmente pesquisar. É por isso que a gente não vai pra frente. Que frente? Essa é outra mentira. E a ministra do Meio Ambiente falou esses dias de um Plano Brasileiro de Enfrentamento às Mudanças Climáticas. Viu? “Brasil quer enfrentar as mudanças climáticas” daí PAC vai investir bilhões em hidrelétricas, Transposição do Rio São Francisco – “Lagos de Hidrelétricas incrementarão turismo” – essa é boa! Então cuidado na próxima vez que falar de sensacionalismo. Claro que notícias de crime vendem. Assim como vendem as mentiras, promessas falsas, paraísos turísticos e muito mais.
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