Ha dez anos seria quase impossível pensar na relação turismo e meio ambiente. Lembro-me de um hotel na Costa Rica que para ser construído precisou aterrar um brejo com a terra de uma colina próxima que foi "cortada" pelos engenheiros. Desviaram um riacho e "tiraram" árvores do caminho para fazer a jardinagem. Hoje, isso é mais difícil de acontecer. O turismo, embora visto com mais força como um fator econômico, já não permite tanto aventurismo na construção. A conta vem na forma de furacões, vendavais, terremotos e desabamento de colinas. Assim os equipamentos turísticos passam a ser vítimas potenciais das mudanças climáticas.
Assistimos a tragédia de Angra dos Reis e Ilha Grande, terremotos nas Ilhas Marianas, Tuvalu e Haiti, bem como inundaçõs e neve excessiva por toda parte do Planeta. O mundo começou a travar conhececimento com atores novos como o "refugiado ambiental" e cada vez mais com o turista endirenhado ou não que de uma hora à outra passa a ser indigente, migrante necessitado da ajuda antes destinada a migrantes, retirantes e intinerantes. É o que mostra Machu Picchu e a inundação por chuva excessiva e anormal no Vale do Urubamba.
Isso me faz lembrar a necessidade de que pensadores, acadêmicos, turismólogos e outras disciplinas pensantes entre em ação e que o turismo - algo que depende muito da prática, passe a utilizar um pouco do conhecimento e das dicussões geradas por eles. O turista como um indigente ou flagelado em potencial já é uma possibilidade desde 1999 e imaginem por quem? Pela Igreja Católica quando ainda sob o Papa João Paulo II, mandou criar o Conselho Pontifício do Migrante e do Intinerante. Aqui me declaro fã dessa atitude da Santa Sé porque dentro desse conselho foi criada a Pastoral de Atendimento ao Turismo. Colocar o turista viajante na mesma categoria dos migrantes e itinerantes foi algo muito corajoso na época. Porém realista, vemos hoje.
Eu não sei como são as coisas no seu país, caso você seja um sueco, por exemplo, mas no Brasil nós temos um preconceito muito grande com palavras e conceitos como migrante, retirante, intinerante, bói fria, sem-teto e outras. Cuzco e o Vale do Urubamba mostraram que a Igreja tinha razão. Qualquer turista é um flagelado em potencial. Basta estar em uma área de risco qualquer. Pode ser o Vale do Urubamba, Santa Catarina, Fidji, Ilhas Salomão, Indonésia, Fo do Iguaçu, Rio de Janeiro ou São Paulo. Basta que se cortem as estradas, se interropa uma linha férrea, se feche um grande aeroporto e lá estará um monte de turistas prontos para conhecer o sofrimento. É o que aconteceu com os 2 mil turistas de Cuzcos. Uma agente de viagem amiga minha está preocupada com 50 japoneses, pelo menos 20, dela - quer dizer da agência dela. Outros se preocupam com 200 brasileiros, outros com 500 europeus e a Força Aérea, Policia e Exército enviam helicópteros, países oferecem ajuda, comida e água e finalmente, na miséria, nos igualamos.
O turismo vale bilhões de dólares. Mas nem só de bilhões vive ele. É preciso que cada destino esteja preparado para os desastres e que como previu a Igreja, haja meio de cuidar do turista, dos itinerantes e outros que precsiem de ajuda. á coisas que dinheiro não compra. Daí venho mais uma vez*, pedir aos municípios e tomo a liberdade de pedir aos municípios, paróquias e dioceses que criem as Pastorias do Turismo - lembrando que o turista é parte de um grande grupo de pessoas desprotegidas quando em situação de crise mesmo em cinco estrelas.
A primeira vez que fiz este pedido foi em fevereiro de 2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário